sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

Brazucofobia

Há uma questão primordial, uma dúvida que muitas vezes assalta o espírito conturbado de um fantasma e que provoca acesas discussões entre os seus amigos imaginários: afinal, qual é o país que tem as gajas mais boas do mundo, assim no geral, tipo, em cada dez, nove são boas e a outra é mesmo muita, muita boa? As opiniões dividem-se. Apesar de nunca qualquer empresa de sondagens se ter debruçado à seria sobre o pertinente assunto, russas, ucranianas, húngaras, suecas, holandesas, inglesas, francesas, espanholas, estão entre as mais mencionadas.
Sobre esta problemática tenho uma máxima: o país com as mulheres mais bonitas do mundo é aquele onde estivermos naquele momento. Daí o constante suplício em que vivemos nos, espíritos lúbricos... Na cidade, na rua, no centro comercial, na discoteca, no quarto, por aí fora, é sempre onde estamos, que estão as mulheres mais bonitas do mundo. Há no entanto uma excepção… Considero que existem inúmeras actrizes de telenovela brasileiras facilmente rotuláveis de ‘gajas boas’. Na minha adolescência, como qualquer adolescente normal da minha escola, apaixonei-me pela distante Sandrinha da minha turma e simultaneamente pela Bruna Lombardi e pela Maitê Proença. Sou daqueles que naturalmente entram em transe quando vêem aqueles corpos anatomicamente arrojados onde se verificou uma mistura geneticamente perfeita entre sangue europeu e sangue índio da amazónia, a sambarem no Carnaval, a rebolarem verticalmente no écran de televisão de uma forma que mais corpo nenhum do mundo consegue rebolar. Considero que a ‘bunda’ brasileira deveria ser considerada património mundial da humanidade. Cheguei a ponderar comprar um bilhete na Varig de ida-e-volta no mesmo dia só para ver o programa de TV da saudosa e iconográfica “Tiazinha”…
Mas a realidade é que a mulher comum brasileira, no geral, é disso que estamos a falar, é feiazita! Eu nunca fui ao Brasil mas faço esta polémica afirmação apoiado nos relatos deprimentes de amigos que já foram e depois vieram desapontados e sem os relógios de pulso. Reforço a tese com a observação minuciosa que tenho efectuado às brasileiras com que amiúde me cruzo no dia-a-dia nas carreiras suburbanas dos transportes públicos.
No entanto, a brazuca comum (‘brazuquis emigrantis’) que facilmente encontramos em Portugal a servir numa qualquer churrascaria ou em qualquer bataclã, não deixa de exercer um enorme fascínio no portuga comum, dado o seu elevado IF (Índice de Fodabilidade). A brazuca compensa o seu visível deficit de beleza e graciosidade com uma elevada IHPC (Incrível Habilidade Perfomática na Cama) e ao mesmo tempo uma impressionante TCN (Ternura Carinhosamente Naif), características aparentemente contraditórias mas que estabelecem um equilíbrio energético nos dois principais chacras do incauto portuga que até então se limitava a acompanhar a sua esposa à missa todos os domingos, aproveitando para deitar timidamente o olho à catequista. Se há portanto coisa de que não se pode acusar o portuga comum, é de só dar valor à beleza exterior. Não senhor, não tem nada a ver com a beleza, nada disso, é algo de mais profundo. Tem mais a ver com aquilo que o corpo da mulher, belo ou não, é indiferente, é capaz de fazer. Para o portuga a beleza não tem rosto, tem corpo e quanto mais funcional melhor. E aqui as brazucas estão como enguias na água, onde a eloquência proverbial também é um dos seus pontos fortes. Atente-se o quão poderosas podem ser as palavras “vem cá meu bem, vem que eu faço um cafuné p´ra oncê” na boca duma brazuca... (trad.: “vinde até mim meu querido, vinde que vos farei uma qualquer sevicia sexual de que tão cedo não vos esquecereis”). Só de pensar causa arrepios.
Não é qualquer mulher que faz um homem. Mas uma brazuca faz-lhe a cabeça, de certeza, e depois faz-se à vida. Pode achar-se caricato o levantamento popular d' “As Mães de Bragança” contra as hordas de brazucas que então infestavam a noite de trás-os-montes, notícia na internacional Times que apontava o ermo local como a nova "Red Light District" europeia. Por umas semanas fomos então o povo mais xenófobo da Europa…
Percebia-se a inquietação daquele mulherio fatela e beato porque de facto muito lar se tem desfeito, muito poder paternal se tem regulado, por culpa das famigeradas brazucas. Conheço pessoalmente um caso. Encontrei o tipo um dia destes no LIDL acompanhado não da mulher e do filho, como já o encontrara varias vezes anteriormente, antes acompanhado da muié e da nova mamãe entretanto mandada vir directamente das profundezas do Ceará. Carregava com uma saca de 20 kilos de comida para cão, ele que sempre odiara cães… Receio que, da próxima vez, o encontre apenas acompanhado do carrinho de compras… e do cão.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

O cego de raiva

Um ceguinho com a sua bengalita de ceguinho na mão, caminha hesitantemente pelo passeio, aproximando-se do rebordo do mesmo, decidido a atravessar para o outro lado da rua. Espera pelo aviso sonoro do sinal verde para peões e com a sua bengalita lá começa a perscrutar caminho livre para avançar em segurança. Sente a presença à sua frente de um automóvel que ali está estacionado e, com a sua bengalita, começa então à cacetada ao capot do carro, enquanto vocifera furioso “estes cabrões estacionam em cima das passadeiras, filhos da puta, é sempre a mesma merda!!!” e por aí fora, chamando a atenção dos outros transeuntes. Um deles aproxima-se, agarra-o pelo braço e calmamente diz-lhe: “espere lá amigo que a passadeira não é aí”, encaminhando-o no bom caminho.A tendência natural das pessoas sem deficiências físicas visíveis é para considerar as outras, denominadas deficientes, como completos coitadinhos, pessoas que além das suas limitações físicas, são igualmente limitados no que toca a sentimentos tão normais como a arrogância e o mau feito. Vêem os deficientes sempre sob uma aureola de sensatez e resignada humildade que, como este episódio verídico atesta, não é verdade. Para mim, que me limitei a observar a cegada, foi uma experiência enriquecedora. Primeiro porque não era o dono do carro que ficou com o capot escavacado, depois porque pude testemunhar in loco um comportamento normalmente irascível que qualquer um pode ter se não estiver nos seus dias, protagonizado por uma pessoa portadora de deficiência física altamente incapacitante como é a cegueira. Qualquer deficiente tem todo o direito de perder as estribeiras, ser uma besta, ficar cego de raiva, como qualquer outro cidadão.