terça-feira, 29 de janeiro de 2008

A bolha de cuspe

Entro no elevador e tenho a companhia duma colega dos pisos superiores. Digo qualquer coisa que me parece ser “bom dia”. Acho que ela também responde qualquer coisa parecida com "boa tarde" e baixa a cabeça olhando fixamente para o chão. Reparo que no canto dos seus lábios forma-se involuntariamente uma pequena bolha fabricada a partir da sua saliva e duma pequena porção de ar expelido do interior da sua boca. Matérias orgânicas numa proporção miraculosamente exacta para formar tão prodigioso fenómeno. A bolha é perfeita, é redondinha, faz lembrar as bolas de sabão mas com a diferença que nesta não há batota. Esta, até prova em contrário, é feita de puro cuspe. Fixo-a com o olhar, a bolha, reparo como resiste a breves contracções que consigo detectar no corte perfeito daqueles apetecíveis lábios e lembro-me daquele filme, autêntico plágio dos meus pensamentos, “Cashback”. Para quem não viu, a história anda ou gira à volta de um gajo que trabalha num supermercado e que consegue parar o tempo. Ou seja, as gajas ficam paradas pelos corredores do supermercado e o tipo, artista, dono da imaginação, tem todo o tempo para as despir a seu bel-prazer e… desenhar.

Só o facto do filme apresentar os melhores pares de mamas alguma vez registados por uma câmara de filmar seria motivo mais que suficiente para a rapaziada ir já ver o filme. Mas vale mais que isso e não fosse aquele final feliz, mais parecido com um anuncio dum qualquer parfum de Cacharel, era o filme da minha vida, pelo menos dos próximos minutos de vida. Quantas e quantas vezes não desejei que o tempo parasse, como agora, mesmo antes de chegar ao rés-do-chão, mesmo a tempo de ser eu a rebentar a bolha com toda a delicadeza que só um verdadeiro artista sem jeito nenhum pode ter.