quinta-feira, 31 de julho de 2008

"As únicas pessoas que me interessam são as loucas, aquelas que são loucas por viver, loucas por falar, loucas por serem salvas; as que desejam tudo ao mesmo tempo. As que nunca bocejam ou dizem algo desinteressante, mas que queimam e brilham, brilham, brilham como luminosos fogos de artifícios cruzando o céu."
Jack Kerouac

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Não tenho nada contra as pessoas gordas. Mas acho que deviam comer menos. E ao afirmar isto sei que automaticamente ficam elas com algo contra mim. Se não ficam lixadas se lhe dissermos “epá estás gorda!”, ficam fulas quando lhes dizemos que deviam comer menos.
Escrevo estas linhas inspirado nos momentos que por vezes passo à hora do almoço na companhia de três pessoas gordas e de uma criancinha que para lá caminha. Sempre que nada de mais minimamente interessante há a observar, restam-me os gordos. Dedico-me à observação destas pesadas criaturas que regularmente se sentam nas mesas circundantes à minha e cujos graus de parentesco ainda não consegui discrutinar com exactidão. Sei que a criancinha é filha do gordo, tal é a autoridade com que a manda comer o resto do bife. As duas gordas que o acompanham podem muito bem ser a mulher gorda e a irmã gorda, ou vice versa, a gorda mulher e a gorda irmã, mas não tenho a certeza.
Hoje estavam sentados mesmo ao meu lado e ouvi-lhes inevitavelmente as conversas. Os surdos têm a sorte de ter legendas ou aquela senhora que parece que nunca envelhece lá no canto do televisor a traduzir os programas da televisão em linguagem gestual. Para perceber esta gente gorda precisava de um tradutor de “conversa de boca cheia”. Ainda assim deu para perceber que os temas giravam todos à volta de fascinantes acontecimentos passados, relembrados com comovente saudosismo: um bitoque comido uma vez em Castelo Branco, umas migas em Beja, uma sardinhada em Albufeira…A comida, principal protagonista em todas as conversas, era tratada carinhosamente com diminuitivos do tipo bifinho, batatinhas, peixinho, sopinha, arrozinho, canjinha, presuntinho, melãozinho, jaquinzinho…por aí fora. Imagine-se a ternura de um carrasco que antes de decapitar o condenado lhe pergunta sobre quem irá ganhar o campeonato este ano. É assim um tipo de ternura parecido com a dos gordos para com a comidinha. Aliás esta coisa dos inhos e das inhas foi algo que sempre abominei mas que parece estar cada vez mais em voga. O meu novo vizinho do lado tem a mania de dizer “então boa noitinha”! A ele ainda o perdoo porque a mulher é assim para o pequenin-ó-delicioso, nela é tudo inho. É natural que um gajo quando está com uma coizinha daquelas, até a noite pareça pequenina e lhe diga coisas mimosas como “abre as perninhas abre” ou “deixa-me chupar-te as maminhas deixa”. A verdade é que ela deve ser uma bela fodinha, a melhor febrinha do prédio sem dúvida.
Enquanto eu fantasio com a minha vizinha, toda a gente acusa os bio-combustiveis como os culpados da galopante escalada dos preços dos alimentos, mas é altura de apontar o dedinho aos verdadeiros culpados, os gordos, essa malta que come por duas, três ou quatros pessoas. Havendo cada vez mais gente gorda, é natural que a procura de alimentos aumente, logo, que o preço dos alimentos aumente, logo, que se gaste mais combustível para transportar mais alimentos, logo, que se gaste mais dinheiro para pagar gasolina cada vez mais cara, que se consuma mais terra arável, mais água, adubos para gerar mais alimento para alimentar os gordos. Resumindo, uma pessoa gorda é uma autêntica predadora dos recursos naturais do planeta que não merece ir para o céu. Só se lá em cima não houver Mc'Donalds. Nesse caso tudo bem, sejam benvindos. O céu sem hamburgueres deve ser inferno suficiente para um gordo.
As pessoas gordas são atentados ecológicos que deveriam ser combatidos com a mesma tenacidade com que se combatem as marés negras. Lá porque não vemos gaivotas sujas de nafta e sardinhas mortas a dar á praia, não quer dizer que não possamos imaginar as gaivotas esmigalhadas debaixo dumas nádegas gordas e as sardinhas a desaparecerem dentro daquelas bocas vorazes como se de jaquinzinhos se tratassem. Proponho batalhões de massagistas e personal-trainers, drenagens linfáticas e ginásios, dietas rigorosas e bandas gástricas, psicoterapias e jogging, tudo subsidiado se for preciso com dinheiro dos magros.
Nos anos 70, em plena crise energética, pleno choque petrolífero, a Air France pôs-se a fazer contas e descobriu que após cada viagem os aviões acumulavam no seu interior não sei quantos quilos de pó. Concluíram que se aspirassem os aviões como deve de ser, conseguiriam recolher ao final do dia não sei quantos quilos de pó que corresponderiam a não sei quantos quilos a menos no peso dos aviões significando uma poupança de não sei quantos litros de fuel. Era tempo de se fazerem umas não sei quantas contas, não aos quilos de pó, antes aos índices de massa corporal dos ocidentais, quanta banha poderia ser lipo-aspirada como deve de ser, e chegar-se também à conclusão dos milhões de litros de gasolina que se poupavam se houvesse menos peso nos automóveis e transportes públicos, resultando em consequência menos emissão de CO2 para a atmosfera e menos apoplexias.
É tempo de acabar com essa imagem chocante e cada vez mais vulgar que é ver um daqueles chinelos de enfiar o dedo do pé reduzido à espessura duma folha de papel debaixo dos pés duma gorda. É tempo de gritar com toda a força dos nossos pulmões: “Viva os tornozelos bem torneados em cima duns sapatos de salto alto!”

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Vou a uma farmácia, a minha farmácia favorita. E o que pode ter esta farmácia de diferente das outras farmácias ao ponto de a considerar como a minha farmácia favorita ? Obviamente as gajas. São só gajas que estão a atender. As farmacêuticas a pouco e pouco têm estado a conquistar o meu fantasioso mundo, fazendo companhias ás também suas colegas de bata branca, as enfermeiras.
No meu tempo de puto brincávamos aos doentes e ás médicas. Hoje em dia não me importo de brincar aos pervertidos e às farmacêuticas. Evito as consultas médicas tradicionais. É muito chato estar á espera da nossa vez na sala de espera de um consultório médico onde as revistas são todas de há seis meses atrás, as recepcionistas escondem-se nos guichets austeros, usam tamancas e a médica nunca mais chega do outro consultório onde também dá consultas e onde as revistas pela certa são do ano passado. Só recorro aos serviços de médicas quando em situações extremas não são as farmacêuticas a salvar-me a vida. Agora há muito tempo que frequento apenas as farmácias. Meia dúzia de palavras, debito os sintomas e é ver estampado no rosto do lado de lá do balcão um olhar terno e compreensivo, e na ponta da língua a solução para as minhas maleitas.
A minha farmácia favorita, como qualquer farmácia moderna, tem um braço mecânico que vai buscar os medicamentos e máquina dispensadora de senhas de atendimento. Ou seja, tem o inconveniente de nunca saber que farmacêutica me calhará em sorte. Mas ao contrário de outras farmácias onde corro o risco de ser atendido por um burgesso qualquer, nesta farmácia tenho sempre pelo menos a garantia de ser atendido por uma gaja. Ainda assim elas distinguem-se entre a melhor de todas, a boa como o milho e a comia-a agora já em cima do balcão, sendo que não podendo escolher, estou sempre sujeito á arbitrariedade dos números das senhas. Hoje para me estragar o final de tarde, além das habituais farmacêuticas, estava de serviço um camafeu que não se enquadrava minimamente nas categorias que acima enunciei. Não vou aqui perder tempo a descrever o que é para mim um camafeu. Resumidamente, é uma gaja com determinadas características onde, nem precisará de ser muito feia, há qualquer coisa nela que nem que me pagassem! E atenção, eu até não me importava que me pagassem, mas organica e mecanicamente falando, se me faço entender, a coisa nunca funcionaria. Eu estaria sempre condenado a uma humilhação e caso me pagassem previamente, sujeito a ter que devolver o dinheiro. E eventualmente a dar do meu bolso para que o camafeu me prometesse não contar a ninguém. Tenho este defeito, penso mesmo que é um defeito grave. Nem com a bomba atómica do sexo, um valente bóbó, se for feito por um camafeu, lá vou. Se a gaja se enquadrar nos padrões com que defino de camafeu, nada feito. Reconheço no entanto o mérito destes espécimes e a sua importância na adolescência de qualquer jovem saudável. É com elas que se se aprende errando para depois se atingir a excelência.
Ora, quando vi o camafeu farmacêutico a atender, o pensamento que logo me ocorreu foi, "fosga-se não quero ser atendido por aquele camafeu!". Não me estava a ver confessar-lhe as minhas fraquezas momentâneas "ando com dificuldade em engolir sabe...o que acha que seja ? Não haverá nada para isto ? Acho que é do ar condicionado..." E o que pensei na minha inocência para evitar a possível constrangedora situação... vou tirar não uma, mas várias senhas para que me possa esquivar caso o camafeu chame o meu numero! Tirei portanto três senhas, 30,31 e 32. Mas, e atente-se no pânico em que me encontrava, não fui pensar que se o camafeu chama-se pelo número 30 e ninguém, eu, respondesse, naturalmente que chamaria pelo 31 e ... Só me apercebi deste facto quando o camafeu chamou pelo 32. Sem mais senhas, sem mais ninguém para ser atendido, lá tive de pedir apenas uma pasta dentifrica.
Outro defeito meu, não consigo manter os meus níveis de sangue frio, lucidez e inteligência em situações de stress como a que vivi na farmácia. A estratégia passaria por tirar uma senha, vir até cá fora espreitar a montra, esperar que entrasse outro cliente e então tirar nova senha depois dele. Ou seja, ficaria com as senhas 30 e 32, o azarado com a 31, seria ele a ser atendido pelo camafeu e eu já não estaria com esta dor de garganta.

sexta-feira, 18 de julho de 2008


Não consigo escrever. A única coisa digna de registo que me apetece partilhar são os resumos mentais que carinhosamente guardo dos mailes pornográficos que ultimamente tenho recebido deste e daquele amigo... Ou o mundo anda muito doente ou sou eu que estou a ficar antiquado. Aviso desde já para o teor altamente melindroso dos relatos que se seguem. Pelo menos na minha óptica. É que quando assim é, esforço-me ao máximo para os tornar ainda mais melindrosos. E aviso antes, também, os incautos leitores para tornar o momento ainda mais melindroso. E abuso da palavra melindroso. Ao ponto de já ninguém estar com pachorra para me ler.
Após lerem estas linhas, muitos terão vontade de se suicidar com um tiro no dedo mindinho do pé. Outros já o fizeram. Têm ainda mais outro. Estejam à vontade. Outros terão vontade de me pedir os ficheiros mpeg. Outros de ir a correr ao supermercado comprar bananas. Aviso que apaguei os ficheiros todos. Não os passei a ninguém por motivos de saúde pública. Quanto às bananas, no Lidl são mais baratas.

  1. uma gorda muito provavelmente com meia tonelada de peso, a cavalgar desenfreada de prazer um gajo magrinho numa cama de quarto de hotel;
  2. um preto a comer de frente o cú duma gaja branca e simultaneamente a fazer-lhe um minete (explico, o bacamarte do preto é enorme, de modo que o preto dobra-se e chega lá com a língua ao mesmo tempo que o enfia. Muito provavelmente o preto conseguirá fazer a si próprio um bóbó. A língua do preto também é comprida.);
  3. um gajo que filma gajas que lhe dão murros e pontapés nos tomates e ele gosta;
  4. uma gaja que enfia uma banana descascada no cu de uma outra que está de gatas e afasta-se um metro para trás. Então a que está de gatas faz força e a banana sai disparada na direcção da outra que a apanha com a boca;
  5. um gajo que sofre duma estranha mutação, tem dois pénis e faz as delicias duma gaja ao comê-la por trás por dois lados ao mesmo tempo;
  6. o Berlusconni a comer macacos do nariz.
Digam lá se não é bom ter amigos assim, que tentam sempre animar-nos, enviando-nos "coisas giras" para o mail ? Conta a intenção. Adeus dedo mindinho!

terça-feira, 15 de julho de 2008

"…Agora pareço estar mais à vontade, na longínqua e pálida margem das coisas. Se posso falar em estar. Se posso falar em à vontade.…

É uma questão de calma interior, de nos escondermos dentro de nós próprios, como um bicho agachado na toca, enquanto os cães passam a correr.…

Eu fazia uma coisa enquanto pensava outra e, ao constatar este abismo, ficava sem saber quem era.…

Não são os mortos que agora me interessam, por mais que vivam à noite pelos quartos vazios. Então, quem é que me interessa ? Os vivos ? Não, não, qualquer coisa de intermédio; uma terceira coisa.…

Há homens, bem sei, que percorrem o mundo em busca da mulher ideal, aquela que satisfará os seus mais escuros desejos e saciará as quentes e informes exigências do sangue; e eu sou desses, com a diferença de que o que eu lascivamente desejo não é uma odalisca de olhos impúdicos mas um ser feito de quietude; não inerte, nem inanimado, mas calmo como eu, um lago claro numa clareira sombria, no qual possa banhar a minha pobre fronte latejante e refrescar os seus tímidos afogueamentos....“
Jonh Banville

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Sinto forte dependência e instintiva atracção pelo impossível, por tudo o que também instintivamente sinto que jamais poderei alcançar.
Exhibit one: não são raras as vezes que me acontece ter vontade, ficar aflitinho para escrever em locais ou situações onde tal não é possível. Mas depois, au contraire, quando tenho tudo o que preciso para o fazer, quando tenho a possibilidade de concretizar o desejo mesmo ali à frente, a desinspiração instala-se... Andamos desencontrados, eu e o desejo, ele aqui, eu lá, ou então ele lá, a maior parte das vezes, e eu em lado nenhum.
Nunca estou no momento, antes, sempre no momento seguinte. O pensamento sobrepõe-se sempre, mais rápido, mais forte que a realidade. Habito um presente onde sou um anacronismo, onde nunca estou verdadeiramente presente a não ser em pensamento, onde sou a ficção de mim próprio, condenado pela impossibilidade de ser.