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quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Sempre que vou atrasado para o trabalho Deus Nosso Senhor castiga-me. Hoje no comboio à minha frente ia uma gaja que já conheço de vista de outras viagens do costume, o tipo de gaja de quarentas e tais onde já se notam os sinais das desesperantes tentativas que matinalmente faz antes de sair de casa para se parecer ainda uma gaja nova. Durante toda a viagem foi a tagarelar com outra gaja que ia ao lado, enquanto passava com a mão pelo cabelo e depois observava os dedos a um palmo da cara para verificar se traziam agarrado algum cabelo perdido. E traziam quase sempre. Por breves instantes fitava-os ficando com uma expressão vesga nos olhos, como que observando com detalhe quantos cabelos tinha arrancado, a cor, o número de série, etc. Depois, ensaiava com os dedos uma breve tentativa de fazer com os cabelos uma bola, que no fundo era mais como que um ritual de despedida, e deixava-os cair para o chão, que é como quem diz, para cima dos meus sapatos, porque eram os meus sapatos que estavam no espaço exíguo de chão que nos separava.
A imagem de montes de cabelos da gaja repousados caóticamente sobre os meus pés agoniou-me a viagem toda. Para ajudar à festa, ao meu lado ia um velho que quase ao mesmo ritmo com que a gaja arrancava cabelos do escalpe, escarrava para um lencinho branco que se ia tornando cada vez mais verde e que desdobrava e depois dobrava metódicamente para voltar a guardar e depois voltar a buscar ao bolso.
Quando senti o imenso alívio que foi sair daquele comboio, no caminho a pé para o trabalho, à minha frente ia uma gaja daquelas que ao andar junta os joelhos e caminha com a ponta dos pés à frente virados um para o outro. Deus Nosso Senhor tinha ainda de me fazer lembrar que nunca comi uma gaja assim. E bem que Ele sabe que não gostaria de morrer sem o fazer!

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Vai uma gaja ao meu lado a ler um livrinho de auto-ajuda. Segundo a contra-capa, a vida é como uma cozinha cósmica (!) onde um cozinheiro (!) está pronto a confeccionar todos os pratos (!) que desejarmos... Estes livros são sempre muito bons, ás vezes abrem o apetite e tudo e fazem muito bem mas a quem os escreve. Daí que já era tempo de alguém ensinar os leitores a escreverem eles próprios livros de auto-ajuda. Tarefa a que, com a humildade que me caracteriza, me proponho aqui fazer em apenas uma lição.
O segredo de um bom livro de auto-ajuda está numa qualquer permissa, uma ideia central à qual se junta palha de vária espécie. O ponto de partida é sempre simples para depois se complicar como complicadas estão as cabeças que vão ler o livro, e passa por classificar a vida, transpôr a ideia da vida para algo objectivo, algo com um funcionamento simples e linear. A vida tem que ser sempre como qualquer coisa simples e linear e a partir daí desenvolve-mos o tema nas suas diferentes vertentes cósmicas, complexas e pouco lineares.
Em vez de uma “cozinha cósmica”, a vida pode, por exemplo, ser como um martelo. É isso, a vida é como um martelo. Porquê ? Não é óbvio ? É preciso saber manejar bem o martelo, escolher bem os pregos com que vamos pregando tábua a tábua, construindo o caixão onde nos vamos enfiar um dia quando já não tivermos mais opções. Ok, enganei-me, isto seria antes para um livro de auto-destruição. Mas repare-se no entanto que a vida como martelo vai buscar a sua lógica à vida como funil. Enquanto donos e senhores da nossa juventude e liberdade, fontes da vida, o nosso leque de opções é bastante vasto, para depois ir afunilando com o passar dos anos. De facto, há medida que os anos passam, são cada vez menos as opções que temos, até ao ultimo suspiro, onde não restam opções. Nestes breves paragrafos sobre a vida como funil esqueci-me de acrescentar que o funil é cósmico. Faço-o agora. Ainda assim, lanço outro exemplo: a vida é como um agrafador! O agrafador que pode manter unidas as várias dimensões da nossa personalidade, um monte de papeis desalinhados que ao longo da vida necessita de ordem. Um desagrafador também dará jeito e convirá escolher bem os agrafos, cósmicos de preferência, convirá que sejam da medida certa e depois temos de ter sempre cuidado para não nos magoar-nos ao agrafar ou ter a certeza que os agrafos não ficam com as pontas para fora do papel, para não magoar outras pessoas que amamos ou pensamos que amamos. Não sei se me faço entender sobre este facto, da vida poder ser como um qualquer objecto como ponto de partida simples e linear para um excelente livro de auto-ajuda escrito por si. E quem diz objecto diz divisão da nossa casa. É que a vida em vez de poder ser como uma “cozinha cósmica” pode também ser como uma casa de banho a qual exige uma constante manutenção. E sempre que alguma merda se agarra á loiça da sanita, que é como quem diz, todo e qualquer tipo de problema ou pensamento negativo que se cole ao nosso espírito, porque só com o autoclismo não vai lá, limpamo-la de imediato com um piaçaba…cósmico naturalmente.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Há sempre algo de inédito nos meus dias sempre iguais. É só preciso estar atento...como agora....
Vejo umas unhas pintadas de azul clarinho. Em vez de ter uns olhos, tem as unhas dos pés da cor do céu. Quem será o seu poeta ?

terça-feira, 29 de abril de 2008

Ao meu lado seguem duas estudantes universitárias. Malta fresquinha®. A mais feiazinha é quem conduz a conversa, trazendo à baila diversos temas que passam pelo professor que se divorciou, pelo que chega sempre atrasado, continuando numa série de TV onde se vê mesmo uma ténia a mexer, e noutro episódio onde aparece um verme que se alimenta de naftalina. A que se senta mesmo ao meu lado fala com uma suavidade na voz, uma serenidade tão sublimemente feminina, capaz de despertar em mim a libido que em manhãs como esta parece anestesiada. Fiquei acordado até por volta das quatro da manhã, cerca de três horas de sono mal dormido que me lançam para um confortável torpor. Interrogo-me sobre se não estarei viciado neste estado, onde as dores na cabeça e nas articulações ocupam-me demasiado para pensar em seja o que for. Faz-me muito bem não pensar em seja o que for, alheando-me da realidade suburbana que sou forçado a frequentar, concentrando-me apenas nos dramas biológicos do meu corpo. Fazia-me bem enlouquecer. A falta de sono parece sempre encurtar esse caminho por onde de vez em quando me aventuro, mas voltando atrás sempre pelo mesmo trilho.
Agarrado ao telemóvel, como se o Chuzzle, este eterno companheiro de breves e monótonas viagens fosse muito mais importante que as mãos da serena estudante que repousam sobre uns calhamaços de farmácia, vou disfarçando a minha sede, o mau estar que me causa estar a poucos centímetros de um objecto de desejo inalcançável.
À minha frente senta-se agora uma mulher dos seus quarenta e passo os 500 mil pontos. Não me atrai absolutamente nada este tipo de mulher dos seus quarenta, principalmente porque assim que se senta, acto continuo (o momento merece linguagem policial), leva braço à cara e esfrega o nariz com a parte inferior do antebraço nu, deixando eventualmente ali um rasto de muco que me escuso a descrever e ganho uma vida extra.
As mãos de onde sobressaem uma unhas cuidadosamente pintadas de vermelho agarram agora um telemóvel e fico sem saber qual foi o destino do verme. O namorado segue na carruagem seguinte e breves momentos depois, só tempo de mudar de carruagem, não cair à linha e ser trucidado, interrompe a conversa. Ela levanta-se, não se despede da amiga colega e ignora-me por completo, que é naturalmente o que merecem gajos agarrados ao telemóvel a jogar. Ainda vai a passar à minha frente, quando a mão do universitário ocupa esse espaço deliciosamente mágico que cobre a cresta iliaca, por breves segundos exposto a poucos sentimentos das minhas sedentas mandíbulas, roubando-me fracções de segundo de deslumbre. Além dos dedos dos pés, o pneuzinho das mulheres é uma das partes mais menosprezadas da anatonomia feminina… Quanta beleza, quanta ergonomia encerra aquele naco de carne… Novo recorde.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Como a minha actividade paranormal tem andado em baixo, não tenho aparecido por estas bandas. Embora de vez em quando me tenha lembrado deste meu projecto que se propõe efectuar uma investigação séria à tristeza, logo de imediato surgia em mim este pensamento: “que se fôda o blog!” Mas a verdade é que sabia que mais tarde ou mais cedo acabaria por aqui voltar. Não esperava que fosse por uma razão relacionada com um tema de certa maneira tabu entre a malta. Que eu saiba nunca li nada em blogs sobre o assédio dos rabetas a gajos normais escrito pelas vítimas, os gajos normais. Como ‘gajos normais’ quero dizer gajos que gostam de gajas e mais nada. Com ‘mais nada’ quero dizer que para muitos desses gajos, além de serem do Benfica, a normalidade ficar-se-á por ali e quem sabe até um dia em que um gajo gostar de uma gaja seja considerado uma anormalidade. E digo gostar, do género sentir tesão.
Aconteceu-me uma merda bastante desagradável hoje e daí vir agora até aqui desbobinar. Se pudesse tomava também um duche. Sei lá, talvez me ajudasse a limpar do desagradável acontecimento de que fui protagonista. Cortar o cabelo irei fazê-lo, logo, de certeza absoluta. Cortar o cabelo para mim tem um efeito terapêutico formidável. Ás vezes ando com neura e o facto de cortar o cabelo, não sei se é por poder espreitar pelo espelho a peidola da Fátinha ali a sirandar à minha volta enquanto me o corta e me conta as fabulosas aventuras da filha na escola, se simplesmente são as energias negativas que se me acumulam no couro cabeludo, sentido-me sempre aliviado de as ver ali no chão debaixo dos pés da Fátinha a serem depois varridas para dentro dum caixote do lixo onde irão encontrar-se mais tarde com latas de conserva de atum abertas e outro material não reciclável num qualquer aterro sanitário. A minha esperança é que por esta hora já ninguém esteja a ler esta merda. Na verdade tive uma necessidade tremenda de expurgar o desagradável acontecimento de que fui protagonista e daí ter vindo para aqui escrever e ressuscitar este blog quando se calhar já muitos o julgavam moribundo. Ainda assim, à cautela, vou tentar divagar ainda mais qualquer coisa, acrescentar mais meia dúzia de linhas de palha até chegar ao cerne da questão e que secretamente desejo que ninguém leia. Embora saiba que ao escrever “desejo que ninguém leia” esteja a despertar curiosidade num post que por este andar vai ser o post mais comprido e chato da minha vida. E estou a escrevê-lo primeiro no Word não só por causa do corrector ortográfico mas também porque não convém que o Blogger esteja muito tempo aberto aqui no trabalho. Acredito que há um qualquer puto bexigoso da informática que deve controlar esta merda, os acessos da malta à net durante o horário de expediente. Quando terminar de escrever, irei fazer copy & paste do texto para o Blogger. O problema ou talvez a vantagem é que os tipos do Google devem conseguir identificar os textos que foram copy & paste, e para eles tais textos constituirão informação duplicada, copiada, lixo que deve ser relegado para o fim no motor de busca. Aqui fica a dica para bloggers: se querem que os vossos textos sejam melhor pesquisáveis e apareçam nos primeiros lugares nos resultados do Google, quando estiverem a escrever os vossos posts façam-no directamente na caixa de texto do Blogger.
Bem, falemos então do que me aconteceu. Antes relembro um domingo à noite em Mafra quando andava na tropa. Um camarada meu chegava do fim de semana civil bastante perturbado. O tipo vinha do Entrocamento de comboio e ia depois a penantes até à Praça do Comércio onde se encontrava com um gajo de outro pelotão e vinham os dois no carro do outro apanhando pelo caminho outros recos (recrutas). Nessa noite, naquele quartel de luxo no interior do convento de Mafra, o tipo contou-me a mim e a mais outros gajos que cerca de uma hora antes, quando chegara a Santa Apolónia (estação) e se dirigia a pé ao encontro da habitual boleia, pelo caminho tinha sido abordado por um cabrão de um velho que o tinha assediado. Não o largaria até chegar ao carro. O velho, certamente com fetiche por rapazinhos fardados, insistia para que ele o deixasse chupar-lhe o piço. Dava-lhe vinte contos se lhe deixasse ‘mamar até ao fim e beber tudo’. E por aí fora, foi sempre a chateá-lo. O meu camarada era um gajo assim a dar pró brutamontes mas com cara de bebé, aquele tipo de gajo que se nota claramente quando está encaralhado porque o sangue lhe sobe exageradamente à cara. Contou-nos o transtornado pele vermelha que durante o caminho por várias vezes enxotara o velho, ameaçando-o que lhe ia aos cornos, mas o cabrão do velho nunca despregara e até correra atrás dele. A coisa na altura e durante muitos anos meteu-me confusão… Como podia alguém pagar para chupar no piço de outro ? Com o passar dos anos e depois ler o que se encontra escrito nas portas das casas de banho das estações de serviço das auto-estradas, apercebi-me que é um passatempo muito vulgar entre a rabetagem.
Lembro-me que na altura esta conversa serviu de mote a outras histórias que se teriam passado com outros camaradas. Todos os presentes confidenciaram histórias mais ou menos semelhantes sublinhando no entanto a forma heróica como se tinham desenvencilhado dos rabetas, sempre oferecendo-lhes porrada e até chegando a ir-lhes ao focinho. Senti-me aliviado por nunca me terem ocorrido semelhantes episódios. A verdade é que nunca fui um fantasma atraente para as gajas e portanto, no domínio dos rabetas também nunca o fui. Dificilmente alguém me consegue detectar. Mas se me visse numa daquelas situações não saberia como reagir. Decerto que não seria com violência porque eu não sou um gajo violento. Não por convicção, antes porque não tenho alternativa. Deus Nosso Senhor não foi generoso com a minha compleição física. Se pudesse era violento de bom grado. Mas dadas as contingências do meu ser, se me armasse em violento o mais certo era alguém ser violento também para mim. E isso eu não gosto. Prefiro ficar quieto. No entanto, passaram já bastantes anos e o que aconteceu aos meus camaradas, e que certamente já aconteceu a toda a malta da minha geração, também já me aconteceu a mim: Já fui assediado por rabetas. E caralho, não foi uma, não foram duas, foram três vezes, quatro, contando com a de hoje. O que não é muito. Não chega a ser uma vez por ano, quanto muito, foram uma ou duas vezes por década. A coisa fica na memória porque os rabetas são assim, extremamente directos e decididos, desbocados, descarados e ao mesmo tempo corajosos presumo. Correm sempre o risco de apanhar no focinho mas arriscam.
Presenciei uma vez uma cena memorável no Bairro Alto. Um tipo estava supostamente a fazer-se a outro. O outro sentindo-se incomodado foi ter com ele e começaram à porrada. Foram rapidamente separados mas deu para perceber que o rabeta dizia que não estava a olhar para o outro gajo não senhora. O outro gajo dizia que ele estava sim senhora. Estavam assim neste despique patético que tomei como lição. Considero perigoso um gajo confrontar um rabeta que o está a galar, com abordagens do género: “olha lá oh meu palhaço estás só a olhar para mim… há algum problema ?” Eu sei que é o que apetece fazer. Mas não, este tipo de abordagem não será o mais indicado. O rabeta fica com uma história para contar aos outros amigos rabetas e para ele será certamente uma vitória aperceber-se que conseguiu tirar um gajo do sério e deixá-lo bem fodido da vida perante a sua atitude cínica. O que sempre fiz foi ignorar, fingir que não me estou aperceber da situação e assim deixar o rabeta confuso ou a pensar que um gajo é parvo ou muito inocente. E mais uma vez presumo que os rabetas não gostam deste tipo de gajo, parvo e ou muito inocente.
As situações que se passaram comigo foram levezinhas, tirando a de hoje que me deixou fodido e me fez vir aqui escrever. A primeira foi num bar-disco no Algarve. Naquele momento estava sozinho junto a uma pequena mesa redonda e alta a galar as gajas na pista. Bebia uma imperial e quando chegou ao fim, quando ia colocar o copo vazio na mesa, estava um copo cheio junto a mim mesmo a pedir para ser bebido. Olhei para o copo e reparei num gajo que estava do outro lado da mesa e que me fez sinal apontando para a cerveja, do género “bebe querido que essa pago eu!”. Fingi que não era nada comigo. Nem reparei na fronha do gajo. Sei que desandei, não voltei a frequentar aquela mesa ou a olhar naquela direcção e o resto da noite decorreu com toda a normalidade: eu a beber mais cervejas e a galar as gajas na pista.
A segunda situação constrangedora ocorreu numa despedida de solteiro. Um panhó de merda aproximou-se do nosso grupo e perguntou se conhecíamos algum sitio fixe para curtir a noite. Estávamos na baixa, a caminho do Bairro Alto e eu era ali o veterano do grupo. Disse-lhe que fosse até ás Primas. Erro crasso! Dar conversa a panhós rabetas em qualquer parte do mundo é contraproducente. Mas sinceramente, na altura o tipo pareceu-me apenas mais um gajo com falta de mulher. O tipo não mais me largou com perguntas e perguntinhas até chegar rapidamente aquele ponto da conversa em que começa realmente a cheirar a esturro. Escusado será dizer que os conpinskas que me acompanhavam já se tinham apercebido da cena, colocando-se a uma razoável distancia a gozar o prato. O rabicholas já falava mal das gajas, que só davam problemas e tal… E tal o caralho!! A solução passou por deixar de responder. Simplesmente ignorar o gajo, como se fosse um cão vadio com aquelas carraças que parecem ervilhas penduradas nas orelhas, assim como faço com os pedintes. E o tipo lá desandou.
No Bairro Alto, numa outra noite, aconteceu-me uma que não foi propriamente um assédiozito. Metemo-nos com umas gajas que traziam a reboque um rebetazito. Ás tantas ele começou a fazer-se de intermediário, do tipo, que tínhamos hipóteses com elas, que uma gostava assim, a outra era assado, mas… Tínhamos mais hipóteses com ele… Lembro-me que o gajo às tantas me disse que apesar de ser rabeta era bem capaz de ser mais homem que eu! Uma coisa não invalidava a outra. Respondi-lhe que eu também era ateu mas que era mais cristão que o Papa! O tipo era um entertenier com piada e lá nos convencemos a segui-lo e a mais as gajas até ao… falha-me agora o nome… fica ali no Príncipe Real, muito conhecido…Trumps. Sei que chegamos à porta e tivemos de fazer um compasso de espera, capricho do portas. Estava também ali um policia que meteu conversa connosco e perguntou-nos se já conhecíamos o lugar. Nós dissemos que não. E era verdade. Lisboa era o Bairro Alto e o Príncipe Real era território inexplorado e desconhecido. O bófia, que nos tirou a pinta a certa altura disse-nos estas sábias palavras: “Epá, vão-se embora que isto não é para vocês…”
E hoje aconteceu-me esta merda… Entro no comboio e sento-me ao lado duma gaja. Não deu para lhe ver bem a cara mas sei que é loira. Na estação seguinte entra um gajo, engravatado, que se senta à sua frente. Quando passa por mim, toca-me no sapato e pede-me desculpa. Foda-se também não era razão para pedir desculpa! Acontece, é perfeitamente normal, o espaço entre os bancos é diminuto, normalíssimo a malta tropeçar nos pés uns dos outros. O gajo não me deu nenhuma canelada, foi um toquezito. Mas pronto, há gajos cheios de delicadezas e nove horas… O problema é que o engravatado, passados alguns momentos, sem a mínima razão e inesperadamente, desloca-se do banco frente à loira para o banco frente a mim. Ou seja, fico frente a frente com um, obviamente e mais que certo, rabicholas. De outro modo, que gajo ‘normal’ sai de um banco junto à janela, frente a uma gaja loira e boa para a frente de outro gajo agarrado a um telemóvel a jogar Chuzzle? Mas calma, começo de imediato a considerar outras hipóteses que teriam provocado esta súbita mudança de lugar. Estava sol a bater na cara do menino ? Não. O banquinho onde estava o menino tinha algum defeito ? Não. O menino não tinha espaço para colocar as perninhas ? Não, a loira estava toda encolhida de frio no banco.
As minhas duvidas desfazem-se por completo quando desvio o olhar do telemóvel e olho em frente. Constato que o gajo está a olhar para mim fixamente. Foda-se, Chuzzle outra vez durante alguns segundos e novo teste. O rabeta parece absorto em mim. Certifico-me, fito-o nos olhos algum tempo: é rabeta, não há duvida! Desculpem mas nenhum gajo que não conheça outro de lado nenhum fica mais que um décimo de segundo a olhar os olhos do outro em silêncio! E agora ? Não sou homofóbico, juro. Sou daqueles gajos politicamente correctos que acha que se são felizes a levar na peida epá tudo bem, é lá com eles. Agora não se sentem é meio metro à minha frente e se ponham em transe hipnótico a olhar para mim!
E agora um pormenor muito importante nesta história. Estou constipado! Durante todo o caminho vou a fungar. Estão a ver aquela situação incomoda em que estamos sentados frente a frente com um paneleirote e estamos com um constante corrimento nasal e temos de estar sempre a fungar para o liquido não escorra até aos lábios ? Estava assim. O quão eu desejava ter um lenço de papel. E às tantas, o perspicaz rabeta, cheio de delicadezas, saca do bolso uma embalagem de guardanapos de papel e estende-a à minha frente! E agora caralho ? Um gajo a precisar urgentemente de um lenço de papel e tenho um rabeta a oferecer-me uma embalagem inteira. Se fosse uma gaja que estivesse à minha frente oferecer-me-ia um lenço ? Claro que não. Era capaz de mudar de lugar enojada. Mas como é um rabeta, obviamente que sim, excelente motivo para meter conversa. Recusei a oferta e continuei a fungar.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Duas miúdas conversam animadamente. O tema é o wrestling. Uma viu o Raw na sexta à noite. A outra não viu o Raw na sexta à noite mas por seu turno viu o Smackdown no sábado de manhã. Seguem agora pormenores dos combates, que às tantas entrou o Baptista e mais não sei quem. São assim matulonas, mais de 18, seguramente, merecendo claramente a distinção de “já boas para levar com ele”. Lembro-me de um texto publicado no expresso deste fim de semana, onde se fala sobre o que se fala nas revistas femininas, principalmente as especializadas em telenovelas. Numa dessas revistas, publica-se um dicionário de posições e práticas sexuais. Uma delas consiste no seguinte:
Um gajo está a comer uma gaja à canzana e às tantas tira-o para fora e finge que se vem cuspindo-lhe para as costas. Ela, julgando que terminou o coito, vira-se e nessa altura o gajo vem-se-lhe para a cara. A prática tem o nome de “Houdini” numa clara alusão à ilusão em causa e é supostamente popular entre a miudagem.
Não admira que miúdas assim, apaixonadas do Wrestling, inspirem a malta a inventar mais truques de magia assim tão divertidos.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Há uma mensagem subliminar espalhada por todas as estações de comboio e de metro: o azeite virgem, masculino, está no seu galheteiro, no seu leito à espera de companhia. Há um lugar vago de lado, por trás, pela frente, consoante a posição do galheteiro, destinado ao vinagre, masculino também, havendo três pretendentes que se perfilam em comboio, qual deles mais desejoso de fazer companhia ao azeite sedento de companhia no antro galheteiro. Adivinha-se escolha difícil e não será de admirar, tal é a promiscuidade dos tempos modernos, que o azeite receba os três, e cada um à sua vez consuma com o azeite virgem o acto do libidinoso tempero.
É estranho que o Vaticano não se pronuncie sobre esta mensagem assim a dar pró rabeta que subliminarmente se esconde na publicidade dos novos vinagres duma marca de azeites.

terça-feira, 19 de junho de 2007

Começo a percorrer o corredor dos lugares sentados e como habitualmente selecciono criteriosamente o local onde me vou sentar, sempre na expectativa de num golpe de vista vislumbrar o lugar perfeito, virado para a frente da marcha, ao lado duma gaja boa, de frente para uma gaja mesmo boa.
Mas desta vez não tenho alternativa. Por não existirem outros lugares vagos, sou forçado a sentar-me ao lado duma pretita que à sua frente tem um puto pretito, para efeito deste relato, seu sobrinho. A pretita, sem história, agora o puto, rapidamente me faz aperceber que a viagem irá ser um calvário, pois estou na presença de um puto nitidamente hiperactivo que não pára nem calado nem quieto no banco. Até que, quando já me preparo para desenroscar a cabeça do raio do puto como se fosse um daqueles bonecos da playmobil, a irmã, para nos sossegar, começa com ele a cantarolar uma musiquinha que dura todo o resto daquela santa viagem e que reza assim:
puto: “O teu pai construiu uma casa ?”
prima: “Sim!”
puto: “Quantos pregos é que usou ?”
e a prima dizia um número ao calhas, para depois voltar o puto à carga:
puto: “O teu pai construiu uma casa ?”
prima: “Sim!”
puto: “Quantos pregos é que usou ?”
e a prima dizia um número ao calhas, para depois voltar o puto à carga:
puto: “O teu pai construiu uma casa ?”
prima: “Sim!”
puto: “Quantos pregos é que usou ?”
e a prima dizia um número ao calhas, para depois voltar o puto à carga:
puto: “O teu pai construiu uma casa ?”
prima: “Sim!”
puto: “Quantos pregos é que usou ?”
e a prima dizia um número ao calhas, para depois voltar o puto à carga:
puto: “O teu pai construiu uma casa ?”
prima: “Sim!”
puto: “Quantos pregos é que usou ?”
e a prima dizia um número ao calhas, e assim sucessivamente até que, hipnotizado pela musiquinha, desenrosco a minha própria cabeça e a pontapeio para bem longe.

segunda-feira, 28 de maio de 2007

O comboio acabou de partir da primeira estação com não mais de meia duzia de passageiros dispersos naquela carruagem onde a paz e o silêncio matinal são quebrados pelo carpido que vem do banco de trás: alguém vai a fazer barulhos com a boca. Aquele tipo de som que se faz quando se mastiga algo que se cola aos dentes, tipo sugos ou caramelos. O enervante cagaçal prossegue e torna-se insuportável. Ponho-me a amaldiçoar o azar de, entre as oito carruagens, entre as suas centenas de bancos, ter escolhido precisamente aquele em que vai alguém atrás a mastigar de boca aberta. Desespero para que chegue a próxima estação, que a carruagem se encha de mais gente, de mais ruminantes se for preciso, mas barulho, ruído que dilua aquele som. O animal, sim, quero querer que se trata de um animal, rumina inconsciente, não se coibindo de ostensivamente mastigar de boca escancarada. Interrogo-me, que tipo de pessoa come caramelos a esta hora da manhã ? É nestes momentos que dou graças a nosso senhor por ele não me ter feito aceitar a proposta que um cigano uma vez me fez numa rua esconsa da baixa de Lisboa. Um revólver a funcionar a 100%, era de um policia, ainda com as balas e tudo, disse ele, que me seria vendido pela quantia de uns meros 100, primeiro, depois 80, e no fim, 50 euros. Não aceitei, ou melhor, o cigano não aceitou a minha proposta de 10 euros, de boa vontade, pois era o que tinha. Se calhar, agradeço então a nosso senhor ter feito com que o cigano não aceitasse. Eu sei que armado seria um verdadeiro perigo. Sinto-me mais seguro e tranquilo se andar desarmado. Agora mesmo, teria sacado do dito revolver e apontado a quem mastiga atrás de mim. Obviamente que dispararia sem a menor hesitação. Penso então a que pensamentos se entregará aquele desprezível ruminante, se eventualmente não lhe causará desconforto sentir alguém à sua frente, tão caladinho, tão compenetrado em pensamentos tão perversos. Imagino-lhe uma fusca no bolso, um revolver, tinha sido ele o transeunte seguinte, naquela tarde também atrás de mim, interpelado numa rua esconsa de Lisboa por um cigano, que lhe teria vendido a pistola do polícia por uns meros 9 euros. Chamem-lhe orgulho cigano, não sei, chamar-lhe-ia desespero, mas podia ter acontecido.
Aguardo apenas mais alguns segundos, até que o comboio pára e a carruagem se enche um pouco mais de passageiros e de musical e aliviante barulho. Acho que a isto se chama tolerância.

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Sento-me. À minha frente um casal. Ela, boa, está adormecida com a cabeça encostada ao ombro dele que também dorme. Estou à vontade para apreciar toda a beleza da gaja. Percorro demoradamente todos os caminhos do seu rosto. Perco-me nos seus lábios entreabertos. Fixo-me ali, naquela boca inconsciente. Imagino a temperatura daquela língua e como gostaria agora de snifar aquele hálito.

sexta-feira, 11 de maio de 2007

Á minha frente senta-se uma gaja que masca ruidosamente uma pastilha. Como sempre, interpreto a minha indiferença, como se ter ali a poucos centimetros uma gaja boa ou uma velha qualquer fosse tudo igual.
Tento render ao máximo o destak. Tem que dar para toda a viagem. Mas aquele barulhinho, o de uma boca aberta a mastigar ruidosamente pastilha elástica, redobra em mim curiosidade óbvia. Não consigo ficar indiferente aos estalinhos. Vou ter que desviar rapidamente os olhos das letras e satisfazer, feito lambazão, a curiosidade. Ensaio o momento e o prognóstico: trata-se de uma miúda à volta dos seus 16 ou dezassete anos. A ansiedade justifica-se, pois está naquela idade própria imediatamente antes do momento da matança, que pode ser no final de qualquer festa, baile ou viagem de finalista, num qualquer quarto de hotel impessoal em Lloret del Mar.
Surge então o olhar de relance, mais que suficiente, no virar da página do jornal. Faço um rápido scanning à personagem e, surpresa e desilusão! Trata-se de uma gaja velha, de quarenta e tal anos! Não vale a pena perder mais tempo, estar com mais pormenores.
Não me enganei completamente, tem um corpo franzino, de miúda. Uma gaja de 40 e tal com um corpo de teen. É batotice, não conta, não vale! Mas aquele barulho da pastilha ruidosa dentro da boca, aquele esgar nervoso e ostensivo que ela faz a cada mastigadela mostrando os dentes até aos molares, é revelador de uma gaja também ansiosa. Mas uma ansiedade diferente da juvenil vítima da matança! É uma gaja com uma visível patologia grave, um flagelo na sociedade moderna e que devia ser assumido de uma vez por todas pela classe médica: a falta de pau. Basta ouvir a pastilha.

terça-feira, 24 de abril de 2007

À minha frente uma gaja mestiça limpa o nariz com o dedo enfiado num lenço. Pausa para verificar o que veio no lenço e nova insistência. Verificação, insistência. É assim durante alguns minutos até que guarda o lenço e saca de um corta unhas. Volta a entreter-se. Ao meu lado um animal, meia idade, cada vez que abre a boca, mais ou menos de estação em estação, faz de corneta, estilo bozina de camião TIR. Na diagonal a acompanhante, uma velha, tipo freira de férias. Adoro estas pessoas que se comportam como se estivessem em casa. Levanto-me. Á minha frente um gajo com um monte de verrugas castanhas encavalitadas na parte de lado do pescoço. Felizmente que tem a cabeça rapada senão nunca poderíamos presenciar aquele espectáculo. No principio do século XX havia quem pagasse para ver algo menos freak. Enojo-me. Viro a cabeça, mas aquela imagem não me sai. Preciso urgentemente de ver uma peidola.