sexta-feira, 29 de junho de 2007


Eu penso que já aconteceu a todos, quando notamos em alguém alguma coisa que não bate certo ou que cheira a esturro. É uma espécie de sentido de aranha que todos temos e que Nosso Senhor nos deu para que nos precavêssemos contra gatunagem, rabetas, gajas parecidas com a Glen Close naquele filme de há uns anos atrás com o Michael Douglas, e outra malta com segundas intenções com a qual nos vamos cruzando ao longo da vida.
Esta sensação de ‘há aqui qualquer coisa que não bate certo’ sinto-a sempre que vejo a estilista Fátima Lopes. E acho que tem a ver na relação que se estabelece entre o seu corpo e o seu sorriso. Lembro-me de a ter visto ela própria, a estilista a desfilar, descascadinha, e como então fiquei estupefacto, pois estava longe de imaginar que a gaja tivesse um corpo daqueles. Estamos sempre habituados a que as estilistas sejam aqueles cromos que depois no final do desfil aparecem mal vestidas e todas encaralhadas de mãos dadas com as modelos boazonas. Neste aspecto, Fátima é uma iconoclasta e que igualmente me deixa sempre surpreso com os seus decotes. Ou seja, o corpo e as mamas que ela tem, parece que têm pouco ou nada a ver com o seu sorriso. Quando ela sorri, é o sorriso de alguém que não tem aquele corpo e aquele belo par de mamas. É como se o seu sistema nervoso, o córtex ou lá ou que é, e todas as ligações que o cérebro faz aos músculos que activam o seu sorriso, apresentassem uma qualquer anomalia que a impedisse de ter consciência do seu par e assim sorrir em conformidade. Não sei, mas parece-me a mim que todas as gajas com belos pares têm um sorriso padrão diferente do sorriso da Fátima. Mas se é silicone pronto, tudo bem.

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Nos altifalantes ouvem-se cânticos religiosos. Vejo algumas freiras e lá no cimo o palanque cheio de padres. Estou entre a multidão, avisto muita gente vestida de preto... Estarei na Cona (ou Cova ou lá o que é) da Iria ? Não. Estou na cidade universitária a assistir à bênção das fitas, martirizante tradição que o 25 de Abril não expurgou. O acontecimento é boff! com os seus rituais enfadonhos, o chorrilho interminável de faculdades e institutos anunciados aos microfones, o consequente abanar das fitas, os gritinhos histéricos, o eferreá e mais o xiribiti não sei quê, e o padre a dizer que reza por todos e mais não sei quê também, e às tantas lançam-se duas pombas brancas para o ar. As pombas limitam-se a voar até ao telhado mais próximo, ao invés de voarem rumo ao horizonte, como se espera sempre mas nunca acontece. Parece-me incompreensível que não se treinem os bichos convenientemente para que voem até à exaustão o mais alto e longe possível, mas de modo a que terminem o seu voo num qualquer campo de tiro para que o seu sacrifício não seja em vão e sejam protagonistas activos nesse nobre desporto que é o tiro aos patos.

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Eu sei que não é fácil. Bem vejo os comportamentos atrapalhados daqueles incautos que quando vão muito bem a ler o seu jornal ou a reparar na racha da saia da gaja que vai sentada à frente, quando são confrontados e interrompidos pela presença desagradável de um pedinte a pedir esmola “por amor de deus”, para “comer qualquer coisinha”, a trautear refrães ou slogans de mendigo, e outros que nem precisam de abrir a boca. Não é fácil dizer que não. Somos confrontados com o drama alheio assim de uma forma tão directa que chega a ser desconcertante. Mas lá tem que ser, com mais ou menos desconforto ou vergonha, fica-se um bocadinho mais perto do inferno mas recusa-se a esmola porque senão um gajo não ganhava para os pedintes.
Não é fácil para os outros mas um bom bocado mais fácil para mim, que sou fantasma. Não que a minha discrição me faça imune ao contacto com tais vítimas da sociedade. A minha presença é notada, sou apenas mais um potencial fornecedor da miséria. Mas uma das características que mais agradeço a Nosso Senhor em boa hora me ter dotado e que, garanto-vos, não é produto de qualquer herança genética, é o facto de ficar impávido e sereno sempre que alguém se arrasta até mim a pedir esmola, e assim, conseguir escusar-me com toda a indiferença e facilidade a dar meia dúzia de trocos a alguém. Bem falta me fazem! Geralmente nem sequer olho para o indigente. Faço um pequeno e quase imperceptível aceno com a cabeça que é entendido como “tenho dinheiro mas preciso dele para comprar um telemóvel novo”. Eles compreendem.

terça-feira, 19 de junho de 2007

Começo a percorrer o corredor dos lugares sentados e como habitualmente selecciono criteriosamente o local onde me vou sentar, sempre na expectativa de num golpe de vista vislumbrar o lugar perfeito, virado para a frente da marcha, ao lado duma gaja boa, de frente para uma gaja mesmo boa.
Mas desta vez não tenho alternativa. Por não existirem outros lugares vagos, sou forçado a sentar-me ao lado duma pretita que à sua frente tem um puto pretito, para efeito deste relato, seu sobrinho. A pretita, sem história, agora o puto, rapidamente me faz aperceber que a viagem irá ser um calvário, pois estou na presença de um puto nitidamente hiperactivo que não pára nem calado nem quieto no banco. Até que, quando já me preparo para desenroscar a cabeça do raio do puto como se fosse um daqueles bonecos da playmobil, a irmã, para nos sossegar, começa com ele a cantarolar uma musiquinha que dura todo o resto daquela santa viagem e que reza assim:
puto: “O teu pai construiu uma casa ?”
prima: “Sim!”
puto: “Quantos pregos é que usou ?”
e a prima dizia um número ao calhas, para depois voltar o puto à carga:
puto: “O teu pai construiu uma casa ?”
prima: “Sim!”
puto: “Quantos pregos é que usou ?”
e a prima dizia um número ao calhas, para depois voltar o puto à carga:
puto: “O teu pai construiu uma casa ?”
prima: “Sim!”
puto: “Quantos pregos é que usou ?”
e a prima dizia um número ao calhas, para depois voltar o puto à carga:
puto: “O teu pai construiu uma casa ?”
prima: “Sim!”
puto: “Quantos pregos é que usou ?”
e a prima dizia um número ao calhas, para depois voltar o puto à carga:
puto: “O teu pai construiu uma casa ?”
prima: “Sim!”
puto: “Quantos pregos é que usou ?”
e a prima dizia um número ao calhas, e assim sucessivamente até que, hipnotizado pela musiquinha, desenrosco a minha própria cabeça e a pontapeio para bem longe.

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Coisa rara, observo despreocupadamente uma gaja estrangeira entretida a enviar uma mensagem pelo telemóvel. É raro fazê-lo assim, olhar inocente, em que se olha e não se pensa nada do género “grandas mamas”, “olha-me aqueles lábios”, “que peidola divinal”, coisas que com naturalidade passam pela cabeça de um gajo. Observo, simplesmente, fixando pontos sem o mínimo interesse, como os motivos da sua mala de tecido.
A gaja é alemã, não se coíbe de mostrar o visor do telemóvel. Imagino que pode estar a mandar uma sms para uma amiga a dizer qualquer coisa como “anne estou ao lado de um portuga que está só a micar a minha mala... começo a ficar com receio que em vez de me querer comer me queira roubar!”. O que passa pela cabeça de um gajo, mesmo olhando despreocupadamente e sem ter qualquer pensamento pervertido na tola...
Então reparo numa característica interessante na gaja. Ela é daquelas pessoas, coisa igualmente rara, que expressa facialmente o que está a sentir, no caso, o que escreve. Quase que para cada letra que tecla no telemóvel, faz como que pequenos esgares condizentes. Torna-se mais evidente quando remexe na sacola e faz uma expressão com a cara do género “onde é que eu pus os rebuçados do dr. Bayard ?”. É uma mima inata. Enquanto não saio, efectua varias buscas pelos vários bolsos da sua mala, sempre com expressões faciais adequadas a pensamentos tais como “olha!! encontrei este femidon, mas ainda não é isto o que procuro!“. Era boa.

sexta-feira, 8 de junho de 2007

quarta-feira, 6 de junho de 2007

De tempos em tempos paro para pensar. Faz bem um tipo pensar. Interrogo-me então sobre qual a gaja mais boa da televisão actualmente. E ontem cheguei a uma conclusão. Depois de passar com distinção por uma bateria de fetiches e posições sexuais dentro da minha cabeça, Emily Procter ganhou aquele título. É aquela loirinha do CSI-Miami.

segunda-feira, 4 de junho de 2007


O tédio leva-me até à varanda das traseiras daquele 1º andar com vista para uma vivenda com um espaço ajardinado ainda razoável. Não se vê ninguém. Reparo apenas nos únicos seres vivos presentes na paisagem, uma mãe gata acompanhada dos seus quatro filhotes, e deliciou-me a observá-los nas suas brincadeirinhas já com o seu quê de violento. São das coisas mais ternurentas e queridas que existem, os gatitos, quando são pequeninos. Passo ali momentos deliciosos a vê-los naquela galhofa, até que me chamam para ir para a mesa.
Nada acontece por acaso. Tenho a certeza que foi nosso senhor que fez questão de naquele momento não estar a filha da dona daquela casa a apanhar sol em topless no jardim ou a empregada de mini-saia a gatinhar sobre a relva a apanhar ervas daninhas, como já as apanhei, para que a minha lúbrica mente descansasse e assim pudesse usufruir daqueles momentos de tão agradável e meramente inocente contemplação.

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Diz-me que uma amiga lhe perguntou pela minha saúde e lhe falou da filha, que teria andado comigo na escola, e que desde sempre tivera um fraquinho por mim. Ainda não casou, está bem empregada, na tap, comprou casa em Benfica e mais alguns eteceteras de conversas de mães. Pelo nome não faço a mínima ideia quem seja, mas escuto atentamente mais alguns detalhes, insistindo naturalmente sobre a descrição física da pessoa que não me deve pôr a vista em cima há mais de 20 anos.
Só passado todo este tempo chegou a revelação do fraquinho… No entanto descanso o espírito porque como a minha retina dela não se lembra, devia tratar-se pois de uma coleguinha fatelazita que certamente assim continuará, estado agravado pelo passar dos anos. Ainda assim, o mistério faz-me voltar ao assunto quando me deito. Então lembro-me, a mais bem comportada e atinada da turma, uma das melhores alunas, cristã, aplicada, uma gaja com juizinho e… tinha um fraquinho por um gajo com uma cabeça como a minha! Já pedi à minha para pedir à outra mãe uma foto actual… De corpo inteiro, claro.