
Agarrado ao telemóvel, como se o Chuzzle, este eterno companheiro de breves e monótonas viagens fosse muito mais importante que as mãos da serena estudante que repousam sobre uns calhamaços de farmácia, vou disfarçando a minha sede, o mau estar que me causa estar a poucos centímetros de um objecto de desejo inalcançável.
À minha frente senta-se agora uma mulher dos seus quarenta e passo os 500 mil pontos. Não me atrai absolutamente nada este tipo de mulher dos seus quarenta, principalmente porque assim que se senta, acto continuo (o momento merece linguagem policial), leva braço à cara e esfrega o nariz com a parte inferior do antebraço nu, deixando eventualmente ali um rasto de muco que me escuso a descrever e ganho uma vida extra.
As mãos de onde sobressaem uma unhas cuidadosamente pintadas de vermelho agarram agora um telemóvel e fico sem saber qual foi o destino do verme. O namorado segue na carruagem seguinte e breves momentos depois, só tempo de mudar de carruagem, não cair à linha e ser trucidado, interrompe a conversa. Ela levanta-se, não se despede da amiga colega e ignora-me por completo, que é naturalmente o que merecem gajos agarrados ao telemóvel a jogar. Ainda vai a passar à minha frente, quando a mão do universitário ocupa esse espaço deliciosamente mágico que cobre a cresta iliaca, por breves segundos exposto a poucos sentimentos das minhas sedentas mandíbulas, roubando-me fracções de segundo de deslumbre. Além dos dedos dos pés, o pneuzinho das mulheres é uma das partes mais menosprezadas da anatonomia feminina… Quanta beleza, quanta ergonomia encerra aquele naco de carne… Novo recorde.