terça-feira, 15 de julho de 2008

"…Agora pareço estar mais à vontade, na longínqua e pálida margem das coisas. Se posso falar em estar. Se posso falar em à vontade.…

É uma questão de calma interior, de nos escondermos dentro de nós próprios, como um bicho agachado na toca, enquanto os cães passam a correr.…

Eu fazia uma coisa enquanto pensava outra e, ao constatar este abismo, ficava sem saber quem era.…

Não são os mortos que agora me interessam, por mais que vivam à noite pelos quartos vazios. Então, quem é que me interessa ? Os vivos ? Não, não, qualquer coisa de intermédio; uma terceira coisa.…

Há homens, bem sei, que percorrem o mundo em busca da mulher ideal, aquela que satisfará os seus mais escuros desejos e saciará as quentes e informes exigências do sangue; e eu sou desses, com a diferença de que o que eu lascivamente desejo não é uma odalisca de olhos impúdicos mas um ser feito de quietude; não inerte, nem inanimado, mas calmo como eu, um lago claro numa clareira sombria, no qual possa banhar a minha pobre fronte latejante e refrescar os seus tímidos afogueamentos....“
Jonh Banville

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