quarta-feira, 23 de julho de 2008

Vou a uma farmácia, a minha farmácia favorita. E o que pode ter esta farmácia de diferente das outras farmácias ao ponto de a considerar como a minha farmácia favorita ? Obviamente as gajas. São só gajas que estão a atender. As farmacêuticas a pouco e pouco têm estado a conquistar o meu fantasioso mundo, fazendo companhias ás também suas colegas de bata branca, as enfermeiras.
No meu tempo de puto brincávamos aos doentes e ás médicas. Hoje em dia não me importo de brincar aos pervertidos e às farmacêuticas. Evito as consultas médicas tradicionais. É muito chato estar á espera da nossa vez na sala de espera de um consultório médico onde as revistas são todas de há seis meses atrás, as recepcionistas escondem-se nos guichets austeros, usam tamancas e a médica nunca mais chega do outro consultório onde também dá consultas e onde as revistas pela certa são do ano passado. Só recorro aos serviços de médicas quando em situações extremas não são as farmacêuticas a salvar-me a vida. Agora há muito tempo que frequento apenas as farmácias. Meia dúzia de palavras, debito os sintomas e é ver estampado no rosto do lado de lá do balcão um olhar terno e compreensivo, e na ponta da língua a solução para as minhas maleitas.
A minha farmácia favorita, como qualquer farmácia moderna, tem um braço mecânico que vai buscar os medicamentos e máquina dispensadora de senhas de atendimento. Ou seja, tem o inconveniente de nunca saber que farmacêutica me calhará em sorte. Mas ao contrário de outras farmácias onde corro o risco de ser atendido por um burgesso qualquer, nesta farmácia tenho sempre pelo menos a garantia de ser atendido por uma gaja. Ainda assim elas distinguem-se entre a melhor de todas, a boa como o milho e a comia-a agora já em cima do balcão, sendo que não podendo escolher, estou sempre sujeito á arbitrariedade dos números das senhas. Hoje para me estragar o final de tarde, além das habituais farmacêuticas, estava de serviço um camafeu que não se enquadrava minimamente nas categorias que acima enunciei. Não vou aqui perder tempo a descrever o que é para mim um camafeu. Resumidamente, é uma gaja com determinadas características onde, nem precisará de ser muito feia, há qualquer coisa nela que nem que me pagassem! E atenção, eu até não me importava que me pagassem, mas organica e mecanicamente falando, se me faço entender, a coisa nunca funcionaria. Eu estaria sempre condenado a uma humilhação e caso me pagassem previamente, sujeito a ter que devolver o dinheiro. E eventualmente a dar do meu bolso para que o camafeu me prometesse não contar a ninguém. Tenho este defeito, penso mesmo que é um defeito grave. Nem com a bomba atómica do sexo, um valente bóbó, se for feito por um camafeu, lá vou. Se a gaja se enquadrar nos padrões com que defino de camafeu, nada feito. Reconheço no entanto o mérito destes espécimes e a sua importância na adolescência de qualquer jovem saudável. É com elas que se se aprende errando para depois se atingir a excelência.
Ora, quando vi o camafeu farmacêutico a atender, o pensamento que logo me ocorreu foi, "fosga-se não quero ser atendido por aquele camafeu!". Não me estava a ver confessar-lhe as minhas fraquezas momentâneas "ando com dificuldade em engolir sabe...o que acha que seja ? Não haverá nada para isto ? Acho que é do ar condicionado..." E o que pensei na minha inocência para evitar a possível constrangedora situação... vou tirar não uma, mas várias senhas para que me possa esquivar caso o camafeu chame o meu numero! Tirei portanto três senhas, 30,31 e 32. Mas, e atente-se no pânico em que me encontrava, não fui pensar que se o camafeu chama-se pelo número 30 e ninguém, eu, respondesse, naturalmente que chamaria pelo 31 e ... Só me apercebi deste facto quando o camafeu chamou pelo 32. Sem mais senhas, sem mais ninguém para ser atendido, lá tive de pedir apenas uma pasta dentifrica.
Outro defeito meu, não consigo manter os meus níveis de sangue frio, lucidez e inteligência em situações de stress como a que vivi na farmácia. A estratégia passaria por tirar uma senha, vir até cá fora espreitar a montra, esperar que entrasse outro cliente e então tirar nova senha depois dele. Ou seja, ficaria com as senhas 30 e 32, o azarado com a 31, seria ele a ser atendido pelo camafeu e eu já não estaria com esta dor de garganta.

1 comentário:

- disse...

Humor...não te falta!!! para quem estava deprimida fartei-me a rir às gargalhadas...
A inteligência é um bem muito necessário!!!

Gostei particularmente do TSI...tens muita imaginação e originalidade.