quinta-feira, 16 de outubro de 2008

De vez em quando sou confrontado com situações que reforçam em mim a ideia de que além de fantasma, sou um monstro. Uma colega minha que, vá-se lá saber como, consegue ver-me, interrompe o meu trajecto da hora de almoço para me contar uma novidade. Há uma colega nossa que descobriu ter cancro na mama. A notícia é-me transmitida com a solenidade habitual destas circunstâncias e eu tento retribuir com algumas frases igualmente solenes, igualmente adequadas. Mas porque quis deus nosso senhor que naquele momento passassem por nós várias gajas boas que desciam a rua, enquanto mantenho o diálogo em piloto automático, não consigo deixar de olhar fascinado para os seus corpos e acho que simultâneamente não consigo disfarçar um certo cinismo que me aflige... Não sei se a minha interlocutora repara mas suponho que ela já sabe o que a casa gasta. Mesmo na desgraça, por mais dramática que seja, e parece-me que nunca é mais dramática que a minha própria existência, nunca a minha natureza lubrica me dá descanso.

2 comentários:

Anónimo disse...

Serve para provar às mulheres que estas não têm o exclusivo da multitarefa ou de pensarem em dois assuntos ao mesmo tempo. É perfeitamente possível a um homem sentir duas emoções ao mesmo tempo, principalmente se a possibilidade de foda (mesmo que extremamente remota) se apresentar.

- disse...

Não concordo com o post anterior... não é uma questão de provar ás mulheres isto ou aquilo. Talvez esteja a ser redundante, mas é assim que penso. Um homem é um homem, tem a sua personalidade, a sua maneira de ser, os seus sentimentos, os seus pensamentos e as suas emoções e como tal, não sente e não vê as coisas como uma mulher. Já agora um homem está "programado para ter mais apetite sexual", o que não significa que as mulheres não tenham... Agora quanto à conversa acho que não te deves sentir assim um monstro. Para tudo é preciso disponibilidade interna e quando esta não existe é natural uma pessoa sentir que esta a fazer as coisas por obrigação e não porque o sente porque na realidade é colega mas não passa de isso mesmo, e não sentes uma proximidade suficente para abrir espaço para a paciencia quando se está programado para olhar e ver algo que suscite interesse.